sábado, 13 de abril de 2013

Sou um evadido, Fernando Pessoa

"Sou um evadido. 
Logo que nasci
Fecharam-me em mim, 
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa 
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser 
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me 
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela 
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo 
Mas vivo a valer."

Fernando Pessoa

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Este é simplesmente um dos meus poemas favoritos do Pessoa. Amo e acho muito intrigante essa proposta do 'não ser'. E o autor prova isso muitíssimo bem com seus heterônimos, até hoje incompreensíveis para os especialistas. 

A sensação que eu tenho é a de que tudo neste mundo quer criar meios para definir as pessoas, e eu tenho uma aversão forte à isso. Eu sou um ser humano particular, e nunca vou me encaixar em termos chulos como nerd, otaku, geek, gamer, rockeiro, punker e, como está sendo propagado por silhares de blogs literários, cujos autores são tão providos de alienação quanto as pessoas das quais tanto falam mal, um tal de leitor. Eu sou um admirador assíduo da literatura, mas nunca serei esse leitor aí; nunca.

Além do fato de se limitar de forma tão pobre, o que acho pior é ver os que se auto-declaram adeptos de um desses grupos passarem a considerar uma característica de superioridade ridícula para classificar quem é mais inteligente, quem sente mais dor, quem tem mais cultura, quem não é alienado porque não assiste TV, mas lê o livro, e imbecilidades do tipo.

Sei que fugi quase completamente do que diz o poema do Fernando Pessoa, porque ele vai muito além do que eu explanei. Ele cria múltiplas personalidades que são contraditórias a sua própria, pois acredita que enquanto ele for só ele, será nada mais que um homem preso. Mas como sugerir isso para a sociedade atual é como pedir para ser um duas caras sem caráter, me prenderei à proposta dos esteriótipos.

Inicialmente este post seria apenas o poema, e vejam o que virou. Vamos ver se serei condenado ou aclamado, meus senhores.

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