terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A vida como ela é

Outro vestibular, outra redação, outra oportunidade de soltar a franga, mas desta vez no estilo Conto de ficção científica. Imaginem que legal! Essa era uma das modalidades da redação na prova da UFG. O tema foi "A busca pela juventude eterna: solução ou agravamento do conflito entre gerações?".

O enunciado dessa modalidade de redação:

"Escreva um conto de ficção científica, no qual você seja narrador-personagem, um cientista que descobre uma fórmula para eternizar a juventude.
Imagine que esse cientista encontre uma maneira de fazer com que um grupo de pessoas utilize a fórmula por ele produzida. Conte como isso ocorreu e os resultados obtidos com a experiência. O texto deve apresentar um conflito que envolva ideias e valores sobre as consequências da conquista da juventude eterna. Por meio das ações e diálogos, discuta as atitudes das personagens envolvidas na situação e a relação entre a busca pela eterna juventude e a solução ou o agravamento dos conflitos entre gerações. A trama deve basear-se em explicações científicas ou racionais que assegurem plausibilidade à fantasia construída no conto."
Fiquem com a redação:

A vida como ela é

- Então você pretendia mesmo encontrar a fórmula do rejuvenescimento? – perguntou o policial, zombeteiro.

- Não, - respondi, peremptório – era para eternizar a juventude.

Assim como ele fizera, eu seria rotulado pela mídia como um cientista louco, atormentado pela nostalgia da juventude ou por filmes de ficção científica. Mas não o sou. Sou apenas mais um velho que assistiu à morte de muitos amigos em estados vergonhosos, humilhantes. Não suportava mais olhar ao meu redor e saber que tudo continuaria assim, que outras inúmeras gerações viriam a passar pelo mesmo que eu.

Então tomei uma decisão. Sabia que era física e biologicamente impossível tornar alguém idoso de volta à juventude. Mas acreditava ser capaz de descobrir algo que pudesse, em última hipótese, ao menos prolongar a juventude. Sabia que havia produtos que tentavam esconder as marcas da velhice, mas eu queria algo muito maior. Queria conseguir manter um mesmo caráter físico e psicológico das pessoas por muito tempo, diminuindo a mutabilidade impregnada ao ser humano.

Fiz incontáveis pesquisas e encontrei coisas peculiares, que se estudadas com abrangência poderiam assemelhar-se ao que eu queria. Mas o mais importante me escapava: as cobaias. Esse termo trouxe-me à mente imagens indesejadas, mas eu era um biólogo conceituado, tudo estava sob controle. Optei pelas pessoas mais próximas à mim; meus dois netos aceitaram e até conseguiram alguns amigos também, que sob pressão e com o conhecimento de meu conceito, hesitaram pouco em discordar.

Eu ainda tentava atribuir-lhes a culpa de tudo o que viera a acontecer, por serem tão facilmente influenciados, mas no fundo sabia que a culpa era minha. Dos vários resultados que obtive, fui fazendo com que, pouco a pouco, todos eles experimentassem. Os testes não duraram nem um mês.

Meus netos começaram a me questionar de dores e de sensações estranhas, inapropriadas. Logo depois, um de seus amigos teve de ser hospitalizado e, inevitavelmente, morreu. Foi um susto muito grande, pois sabia ser eu o causador daquilo, apesar de me iludir afirmando ser outra coisa qualquer. Só fui realmente descoberto depois de meu neto morrer e minha neta ser internada.

- Vô, - disse-me, deitada na maca – eu não o perdoarei pelo que fez. Mas que lhe sirva para compreender que o envelhecimento é parte integrante da vida. Se conforme com isso, como fizeram tantos outros, e vá viver. – Foi a última coisa que disse.

Refleti no que ela dissera e achei que tinha razão. Teria de me conformar com o processo de envelhecimento, amadurecimento e morrer como um velho decrépito.

Peguei prisão perpétua, mas não é tão difícil lutar contra a lei como é com a velhice.

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Galera, na redação eu vacilei e escrevi 'decrépto' sem o 'i' bendito, mas ao menos foi o único erro. Eu sabia que tinha algo errado, mas não pude mudar, já que quando faltavam 5 minutos para o término, ainda tinha 4 parágrafos para passar à limpo. Então foi muita tensão e letra ininteligível à torto e à direita.

Eu decidi ser mais ousado e não me prender ao que todos fariam com o enunciado, mas por isso eu acabei sem espaço (a última palavra, "velhice", ficou espremida no fim da última linha) para tratar com mais ênfase dos assuntos éticos e morais , mas espero que isso desconte poucos pontos. Eu realmente tinha muito mais a dizer.

Ah! E qualquer semelhança com Nelson Rodriguez, é, sim, mera coincidência. Eu precisava de um título, e este foi o único que veio à mente.

Comentem e digam: quanto eu mereço entre 0 e 40?

Obrigado pela atenção!

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