Jogos Vorazes - Suzanne Collins

Jogos Vorazes é o primeiro livro de uma trilogia escrita pela americana Suzane Collins. Uma ficção científica distópica que alcançou sucesso quase imediato, e cujo valor é inegável.

“Vejam como levamos suas crianças e as sacrificamos, e não há nada que vocês possam fazer a respeito. Se erguerem um dedo, nós destruiremos todos vocês da mesma maneira que destruímos o Distrito Treze.”

Num futuro indeterminado, a América do Norte que conhecemos passou a ser Panem, constituído da Capital e de outros 13 distritos. A Capital impunha seu poder sobre os distritos de forma totalitária, e eles obedeciam-a.

Quando, porém, os 13 distritos decidiram que não deviam ficar sob o poderio da Capital, revoltaram-se e uniram-se, e uma guerra colossal foi travada. Mas a Capital era mais desenvolvida do que qualquer um dos distritos, e sua tecnologia e armas avançadas logo tornou-se o fator determinante para definir o lado vitorioso.

O resultado fora avassalador: o Distrito Treze foi obliterado e os outros 12 distritos ficaram ainda mais submissos à Capital, sobrepujados por uma tutela ainda mais rígida. A vida nos distritos era de miséria e a Capital, que nunca permitiria às pessoas esquecer quem era o único dominador de Panem, criou os Jogos Vorazes, uma programação anual em que dois jovens de cada sexo dos 12 distritos são sorteados e vão para uma arena, onde participam de um reality show de carnificina, que só se conclui quando somente um estiver vivo.

"— Não sei bem como dizer isso. É que... quero morrer como eu mesmo. Isso faz algum sentido? – pergunta ele. Balanço a cabeça. Como ele poderia morrer a não ser como ele mesmo?… — Não quero ser transformado em algum tipo de monstro que sei que não sou…

— Você está querendo dizer que não vai matar ninguém?

— Não, quando surgir a oportunidade, tenho certeza de que vou matar como qualquer outro tributo. Não posso cair sem lutar. Só fico desejando que haja alguma maneira de... mostrar a Capital… Que sou mais do que somente uma peça nos Jogos deles."

Katniss Everdeen é uma jovem de 16 que vive no Distrito 12. Por perder o pai numa explosão e por sua mãe tornar-se quase inconsciente ao que ocorre a sua volta com a morte do marido, Katniss viu-se a salvação da família. Com o pouco que aprendera sobre caça com seu pai, passou a trabalhar nisso, utilizando os arcos que ele confeccionara ainda em vida. Sempre que podia, ia para a floresta e praticava caça ilegal e digna de punição perante a Capital, a fim sustentar sua mãe e irmã mais nova. A única pessoa que a acompanhava era Gale, que também perdera o pai nas minas. Katniss e Gale tornaram-se amigos e juntos, mantiveram o restante de seus lares.

As inconstâncias da vida, no entanto, não foram favoráveis e Katniss foi o tributo feminino do seu distrito, aquela sorteada para representá-lo nos Jogos Vorazes. Sua vida desmoronou, e ela não se achava preparada para a carnificina dos Jogos.

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Esta leitura é insidiosa, pérfida. Sim, é. Em meio a tantos  elogios e críticas, eu admito ter ficado com muito anseio de ler o livro, mas nunca acreditei que iria gostar tanto. Nunca.

Jogos Vorazes é narrado em primeira pessoa, mas diferente das leituras comuns que usam essa conjugação, ao invés de ser narrado no pretérito perfeito do indicativo (ex: Eu acordei) é narrado no presente do indicativo (ex: Eu acordo), o que no início eu achei estranho, mas apenas porque nunca tinha lido um livro em primeira pessoa nesse tempo verbal. Depois, eu gostei.

Com relação à qualidade da escrita da autora, não posso dizer que é incomparável, magnânima. Ela simplesmente sabe escrever corretamente e a linguagem é bem simples, nada rebuscada. Contudo, eu vi algumas críticas ao sucesso dela que apontavam isso: ter uma escrita normal. Para mim, isso não é critério para desprestigiá-la, pois acredito que o livro não alcançaria o publico-alvo buscado se ela empenhasse-se em uma narrativa pesada, cheia de descrições detalhistas. Posso estar enganado, mas ao ler o livro é possível ver o quanto esse estilo simples da escrita da autora favoreceu para que a história ficasse estimulante.

O enredo da história é incrível, tratando-se de um contexto no futuro que não se prende em máquinas excepcionalmente desenvolvidas e tecnologia de ponta. Suzanne Collins se volta para premissas mais prementes à nossa sociedade. Mostra um mundo em que a desigualdade já é algo que alguns merecem e as circunstancias da vida que ditarão isso, de modo que a consequência é a servidão incondicional. O que possui mais poder ergue-se para submeter os mais fracos, impondo-se com tirania caso seja necessário.

Por acaso, isso é uma novidade para nós? É claro que não. Em nossa história, até o presente momento, casos muito semelhantes ocorreram repetidas vezes — vide o Nazismo e o Fascismo na Segunda Guerra Mundial e várias outra atrocidades cometidas pela humanidade, independente das motivações — e por isso eu não consigo olhar para este livro com a maneira pejorativa que as pessoas costumam ver a ficção científica (e a fantasia também, mas deixemos essa de lado agora). Sejamos honestos, Jogos Vorazes está mais para uma verdade infalível que reflete o que poderá ser a humanidade caso continuemos orgulhosos, vaidosos e vis.

Enfim, vou deixar essa parte da história de lado para falar de coisas alegres. Apesar de ser contundente ao afirmar que Jogos Vorazes não é, em aspecto algum, uma leitura de puro entretenimento — isso é para aqueles que acreditam nisso —, deixo claro que também é uma história que promove muitas emoções com os personagens sublimemente criados. A narração em primeira pessoa da autora é boa o suficiente para que não tenhamos dificuldades de nos aproximar dos personagens coadjuvantes, e destaco que até alguns que passam pouquíssimo tempo com a protagonista já se tornam memoráveis.

Antes de concluir a resenha, deixo para vocês um post sobre a trilogia Jogos Vorazes feito pela Cíntia, a dona do blog Free to be me — que, de passagem, é excelente —, que é simplesmente imperdível. Sem dar nenhum spoiler, ela escreveu um texto interessantíssimo e muito agradável de ler. Recomendo-o a todos — aos que já leram o livro, aos que pretendem ler, aos que não pretendem ler e aos que estão lendo. Efetivamente, o melhor texto que li sobre a saga. Clique aqui e seja redirecionado ao post.

      

Como não poderia faltar para esse sucesso, um filme do primeiro livro já foi feito e os próximos estão sendo preparados, com Em Chamas, o segundo livro da trilogia, para 2013 e o terceiro, A Esperança, que será dividido em duas partes e serão lançados, respectivamente, em 2014 e 2015.

• Trailer oficial do filme legendado:

Já que eu estava muito eufórico ao término da leitura de Jogos Vorazes, na mesma hora baixei o filme na internet e o assisti (até 5 madrugada na net sem nem perceber). Como qualquer adaptação cinematográfica, falta bastante informação e alguns acontecimentos são modificados, mas a essência permanece. Parabenizo à atriz Jennifer Lawrence, que interpretou a protagonista, e o ator Josh Hutcherson, que fizeram um excelente trabalho mesmo.

Então, pessoal, até a próxima e espero conseguir Em Chamas e A Esperança em breve. Estou louco para lê-los!

Indiscutivelmente recomendável!